terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Nankusindjá uni"

Mocimboa da Praia, 03 de outubro de 2009.


Como de costume o dia começou cedo...
Eu e Jennifer acordamos às 05:30 da manhã para acompanhar nossa vizinha Fátima e sua filha Ntôto na “Massamba” – nome designado ao lugar das plantações, ou para o tempo de seca, que é o qual estamos passando, para buscar lenha.

Andamos até a beira da praia e encontramos um barco nos esperando. Tivemos que arregaçar nossas capulanas, tirar nossas sandálias e andar mar adentro até chegarmos ao nosso meio de transporte.

O barco estava cheio de homens, mulheres e algumas crianças, e a travessia para a ilha de “Mocimboa Velha” (é assim que chamam esta ilha) levou uns 15 minutos. Um senhor ficou sabendo que queríamos conhecer o local e veio gentilmente ser nosso guia turístico. Falou com orgulho da terra a qual pertence a sua plantação e no final do nosso passeio fez questão que eu tirasse uma foto dele e de sua esposa. 
Ajudamos a cortar lenha – tarefa muito penosa por sinal, pois, por mais que eu tenha tentado, aquele pedaço de madeira não se partiu por nada nesse mundo. Logo veio Fátima e em menos de 10 machadadas aquele pedaço de madeira se partiu com facilidade.

Semana passada tivemos um curso lingüístico (LAMP – Language Acquisition Made Practical). Foi um tempo muito produtivo e resumindo: aprenderemos mais facilmente a língua quanto mais nos embrenharmos no dia a dia, nos afazeres e na cultural local. Temos que aprender uma frase complexa por dia e falar esta frase para pessoas desconhecidas na vizinhança, assim, sem que ao menos percebamos, começamos a desenrolar a língua e falar kmwani. As vezes é bem difícil, pois por mais que repitamos a frase 20 vezes, esquecemos a estrutura da frase ou a fonética da palavra....
Assim, enquanto cortava aquele pedaço de lenha ia repetindo: “Nankusindjá uni” – “Estou a cortar lenha” e aprendi outras palavras como barco: ingaláu, vela: tanga e praia: muáni. 

Acabando de cortar lenha, Fátima nos deu nossos respectivos pedaços de madeira para ajudarmos a carregar. Tirei minha capulana, atei na minha cabeça e começamos a trajetória de volta. Entramos no mar segurando nossas sandálias, nosso pedaço de madeira e, é claro, as nossas saias... risos... foi ótimo!!!

Só consigo pensar o quanto é dificultoso para as pessoas terem fogo para cozinhar, água para beber... tudo tem q  ser buscado, carregado e este processo leva muito mais tempo do que nossa mente capitalista e imediatista pode suportar. Não que as pessoas da cidade não trabalhem duro para aquisição de eletricidade, comida e água, mas a ótica de tempo, espaço e trabalho é muito diferente numa vila rural.

Na quinta-feira, dia 01 de setembro, fui no “Embebébe”, local onde as mulheres lavam roupas, mas essa atividade veio de surpresa e não levei minha câmera fotográfica comigo. Uma pena!!! Andei por 40 minutos com minha amiga Ágata, passamos por um mangue e chegamos num descampado onde se encontra duas pequenas poças de água doce. Uma das poças é usada para lavar roupa e a outra para beber: a água é cinza e opaca, mas ainda sim, é doce. Durante o caminho aprendi: “Nankulude Kukufula Embebébe” (Estou vindo de lavar roupa no Embebébe). Não sei se meu português está correto, mas tenho aprendido kmwani, falado português com alguns moçambicanos e vivido meu dia a dia com o inglês... tem hora que minha cabeça dá um pane... rss... Estou acostumando a usar blusa vermelha, com capulana de flores roxas e ficar com o pé preto... rsss... isso pra quem realmente me conhece é um progresso e tanto!!! rss... A beleza tem outros valores e modos de se apresentar e tem sido ótimo entender e viver esses diferentes tipos de belezas...

É isso gente... minha semana foi cheia de experiências novas e únicas, e isso é benção de Deus, pois a Ele tenho entregado os meus dias aqui em Mocimboa...

Ahhh... e amanhã levarei minha primeira visita na Igreja!!! Ela não é mwani, só fala português e seu nome é Ângela. Comecei a orar com as minhas vizinhas... já oramos três vezes juntas, glórias a Deus!!!

Saudades de todos!!! 
Beijos 
Ana



 

 

 

 


Um comentário:

  1. Nossa, Ana........vc tinha desaparecido depois do orkut....daí pesquisando em blogs sobre essa questão na Africa, encontro vc!!!!!! Fiquei bem confuso.............De qq forma um grande abraço pra vc!!!

    Renato P. almeida

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