Mocimboa da Praia, 03 de outubro de 2009.
Como de costume o dia começou cedo...
Eu e Jennifer acordamos às 05:30 da manhã para acompanhar nossa vizinha Fátima e sua filha Ntôto na “Massamba” – nome designado ao lugar das plantações, ou para o tempo de seca, que é o qual estamos passando, para buscar lenha.
Andamos até a beira da praia e encontramos um barco nos esperando. Tivemos que arregaçar nossas capulanas, tirar nossas sandálias e andar mar adentro até chegarmos ao nosso meio de transporte.
O barco estava cheio de homens, mulheres e algumas crianças, e a travessia para a ilha de “Mocimboa Velha” (é assim que chamam esta ilha) levou uns 15 minutos. Um senhor ficou sabendo que queríamos conhecer o local e veio gentilmente ser nosso guia turístico. Falou com orgulho da terra a qual pertence a sua plantação e no final do nosso passeio fez questão que eu tirasse uma foto dele e de sua esposa.
Ajudamos a cortar lenha – tarefa muito penosa por sinal, pois, por mais que eu tenha tentado, aquele pedaço de madeira não se partiu por nada nesse mundo. Logo veio Fátima e em menos de 10 machadadas aquele pedaço de madeira se partiu com facilidade.
Semana passada tivemos um curso lingüístico (LAMP – Language Acquisition Made Practical). Foi um tempo muito produtivo e resumindo: aprenderemos mais facilmente a língua quanto mais nos embrenharmos no dia a dia, nos afazeres e na cultural local. Temos que aprender uma frase complexa por dia e falar esta frase para pessoas desconhecidas na vizinhança, assim, sem que ao menos percebamos, começamos a desenrolar a língua e falar kmwani. As vezes é bem difícil, pois por mais que repitamos a frase 20 vezes, esquecemos a estrutura da frase ou a fonética da palavra....
Assim, enquanto cortava aquele pedaço de lenha ia repetindo: “Nankusindjá uni” – “Estou a cortar lenha” e aprendi outras palavras como barco: ingaláu, vela: tanga e praia: muáni.
Acabando de cortar lenha, Fátima nos deu nossos respectivos pedaços de madeira para ajudarmos a carregar. Tirei minha capulana, atei na minha cabeça e começamos a trajetória de volta. Entramos no mar segurando nossas sandálias, nosso pedaço de madeira e, é claro, as nossas saias... risos... foi ótimo!!!
Só consigo pensar o quanto é dificultoso para as pessoas terem fogo para cozinhar, água para beber... tudo tem q ser buscado, carregado e este processo leva muito mais tempo do que nossa mente capitalista e imediatista pode suportar. Não que as pessoas da cidade não trabalhem duro para aquisição de eletricidade, comida e água, mas a ótica de tempo, espaço e trabalho é muito diferente numa vila rural.
Na quinta-feira, dia 01 de setembro, fui no “Embebébe”, local onde as mulheres lavam roupas, mas essa atividade veio de surpresa e não levei minha câmera fotográfica comigo. Uma pena!!! Andei por 40 minutos com minha amiga Ágata, passamos por um mangue e chegamos num descampado onde se encontra duas pequenas poças de água doce. Uma das poças é usada para lavar roupa e a outra para beber: a água é cinza e opaca, mas ainda sim, é doce. Durante o caminho aprendi: “Nankulude Kukufula Embebébe” (Estou vindo de lavar roupa no Embebébe). Não sei se meu português está correto, mas tenho aprendido kmwani, falado português com alguns moçambicanos e vivido meu dia a dia com o inglês... tem hora que minha cabeça dá um pane... rss... Estou acostumando a usar blusa vermelha, com capulana de flores roxas e ficar com o pé preto... rsss... isso pra quem realmente me conhece é um progresso e tanto!!! rss... A beleza tem outros valores e modos de se apresentar e tem sido ótimo entender e viver esses diferentes tipos de belezas...
É isso gente... minha semana foi cheia de experiências novas e únicas, e isso é benção de Deus, pois a Ele tenho entregado os meus dias aqui em Mocimboa...
Ahhh... e amanhã levarei minha primeira visita na Igreja!!! Ela não é mwani, só fala português e seu nome é Ângela. Comecei a orar com as minhas vizinhas... já oramos três vezes juntas, glórias a Deus!!!
Saudades de todos!!!
Beijos
Ana
Nossa, Ana........vc tinha desaparecido depois do orkut....daí pesquisando em blogs sobre essa questão na Africa, encontro vc!!!!!! Fiquei bem confuso.............De qq forma um grande abraço pra vc!!!
ResponderExcluirRenato P. almeida