quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um natal em setembro

Mocimboa da Praia, 21 de setembro de 2009.

O dia 21 de setembro de 2009 começou cedo como de costume...
Eram 05:55h da manhã e as panelas já estavam a trintrilhando no quintal ao lado... e realmente é impossível dormir quando sua janela está grudada no quintal ao lado, separada somente por um muro feito de bambus.  
No dia anterior, as mulheres estavam todas em seus quintais preparando bolos e biscoitos de coco, assados em seus novos fornos (enormes, realmente altos e pomposos, feitos de barro). Toda essa movimentação estava acontecendo para comemorar o “Idi”, como eles chamam o último dia do Ramadã.
Foi feriado em Mocimboa da Praia, assim todos estavam livres dos seus afazeres para festejar.
As orações nesse dia na mesquita da minha rua foram mais fervorosas e podia-se escutar alguns cânticos sendo entoados em meio às preces. A mesquita estava excessivamente cheia de fiéis clamando ao seu Deus.
Logo após as orações comecei a ouvir vozes de mulheres pelo bairro e ao abrir minha porta me deparei com um grupo de mais ou menos 30 mulheres. Todas com suas capulanas novas, coloridas, cobrindo todo o seu corpo e suas cabeças. Rodearam as ruas do nosso bairro cantando, dançando e carregando uma enorme bandeira vermelha e branca com um símbolo estampado. A jornada começou e terminou em frente à Mesquita.
Fiquei timidamente observando do murinho em frente a minha casa, mas logo tomei coragem, peguei minha câmera fotográfica e fui me juntar a elas. Muitas já me conhecem das minhas andanças pelo bairro, mas tive que cumprimentar uma a uma, apertando suas mãos três vezes seguidas, como manda a tradição.
Elas começaram a orar, elevando suas mãos aos céus e passando em seus rostos. Em meu coração eu só clamava pelo nome de Jesus, o nome mais poderoso e o único nome que as pode livrar do jugo de suas crenças e valores.
Ficaram eufóricas ao ver a câmera fotográfica e logo se arrumaram para tirar fotografia... Foi um momento único ver aquelas mulheres orgulhosas de suas vestimentas, hasteando com fervor a bandeira... uma cena cheia de significados....
Voltei para casa e fiz um bolo para dividir com minhas vizinhas.
No meio da manhã se “quebra” o jejum e na parte da tarde todos saem às ruas para desfilar suas vestimentas novas e para fazer visitas. Essas visitas são recheadas a troca de bolos, bolachinhas e comida.
Esta data pode ser comparada ao nosso Natal, (somente pela sua movimentação e alegria). Os pais compram roupas novas para as crianças e para os outros componentes da família quando lhes sobra dinheiro. Todos ficam muito enfeitados, desfilando pela vila com suas roupas novas. As meninas e mulheres com os cabelos trançados, muitas vezes com miçangas coloridas; os meninos e rapazes com suas calças, camisas e bermudas novas. Todos prontos e bonitos para curtir o dia festejando, conversando, visitando, comendo...
Fui com a minha amiga Ágata visitar outro bairro. Entramos em quatro casas diferentes. Em todas o diáolgo começava:
Salama! (Oi! / Bom dia/ Boa tarde)
Salama! (Oi: Bom dia/Boa tarde)
Muwapo? (Tudo bem?)
Tiwapo (Tudo bem!)
Entrávamos com alguns bolos e saiamos com outros diferentes. Todos trocando suas panelas e seus quitutes.
Eu e Jennifer compramos pirulitos e distribuímos para as crianças na nossa rua.
E assim, mais um dia se foi... e assim,  mais um Ramadã se findou, com seus jejuns, preces e bolos no final...
Sei que nesse período as orações foram incessantes ao redor do mundo pelos povos muçulmanos, e sei que Deus operou maravilhas nesse tempo. E um dia os céus colherão estes frutos com júbilos e louvores ao Rei dos Reis e Senhor dos Senhores!!
Amém!!

Ágata pronta pro "Idi"




Assanito com sua roupa nova













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