quinta-feira, 30 de junho de 2011

Crianças esquecidas numa aldeia africana

Espungabera, 26 de junho de 2011.



Eu não sabia o que me esperava, só sabia que era longe... muito longe... Espungabera era conhecido a mim somente pelos relatos da minha amiga missionária Cecília.



A terra foi ficando cada vez mais vermelha a cada quilômetro trilhado. A serra começou a aparecer de forma íngreme até chegarmos ao topo de uma linda montanha. Mas o tempo no conforto desta terra vermelha foi curto. Logo já começamos a nos preparar para passar 5 dias na aldeia de Macumba, totalmente isolada no mato a uma hora e meia de Espungabera.



A mata era fechada e a Land Rover em que estávamos ia abrindo caminho pelas clareiras... eu só conseguia pensar: “Se eu tiver que sair correndo, para onde eu corro?” Não havia para onde correr....



Montamos nossa barraca atrás da Igreja e logo dezenas de crianças começaram a aparecer, com seus olhinhos atentos, curiosos, sedentos, famintos, espertos... Participei com a missionária Didi, Cecília e um jovem moçambicano chamado Manguiza de um treinamento sobre como ensinar crianças na Escola Dominical....



Com pensamentos inocentes e despreparados, me deparei com uma realidade espiritual totalmente escura e sombria. Não sabia que aquela região é centro de muitas reuniões e treinamento de feiticeiros e curandeiros de toda a África...



Um dia, estávamos sentadas em volta da nossa barraca e uma menina chamada Itipo, de apenas 5 anos de idade, ficou possessa de espíritos malignos. Ela estava sentada no chão e sua coluna ia pra frente e pra trás, quase arrastando seu rostinho na terra. Suas mãozinhas ficaram duras e ela não tinha nenhuma expressão em seu olhar. Sua irmã Helena, que estava ao seu lado, fazia carinho em suas costas o tempo todo. Depois de orarmos por ela, ainda demorou muito para que ela conseguisse nos olhar nos olhos, a sorrir... Eu não sabia o que pensar... nem sabia como agir...



Tomar banho no mato, usar o banheiro no mato, apesar de extremamente desconfortante não se comparava ao peso e ao desconforto de conviver tão de perto com pessoas sobrevivendo em meio a uma pobreza generalizada. As crianças estavam muito sujas, cheirando mal, o frio era cortante e elas não tinham nenhuma roupa apropriada ou calçado pra se protegerem do clima gelado. Elas se amontoavam na fogueira à noite e logo ao amanhecer...



O grau de pobreza que encontrei em Macumba foi terrível. A pobreza espiritual, a lacuna de amor, esperança, paz, a carência em todas as expressões daquelas mães, crianças, pais e famílias fizeram com que o nosso coração se cansasse de tamanha disparidade... Assim, além de treinarmos pessoas para o ensino bíblico infantil, contamos histórias bíblicas para as crianças, cortamos suas unhas, visitamos, fomos buscar água, brincamos, pintamos seus rostinhos e é claro, também fomos pintadas... E o mais impressionante, conheci a Essináti, uma menina de 9 anos que lê perfeitamente o português e que nos pediu uma Bíblia pra ler... uma emoção sem medida...  



Mas Glórias a Deus pelo seu filho Jesus, pelo seu amor e misericórdia por nós e pelo povo de Macumba. Sua luz brilhou naquele lugar e continuará a brilhar através daquelas crianças... Deixamos aquela aldeia felizes pelo trabalho realizado, pelo amor demonstrado e pelo aprendizado com um povo sofrido, mas que tem aprendido a conhecer  e a temer a Deus...

 

Passar esses dias longe da minha terra em Mocimboa da Praia tem marcado a minha vida de forma impressionante... tenho conhecido um outro Moçambique... e a idéia da despedida tem ficado cada dia mais dolorosa...







Um comentário:

  1. Parabens irmã !!! lhe ouvi hoje na operaria. 16-10-2011. Digo-lhe que brasas estão sendo colocadas sobre ti e o Senhor esta contigo.
    O amor é forte como a morte. Amar aquele povo é como se estivesse nos amado,bjo no coração.

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