sábado, 21 de julho de 2012

Mocimboa da Praia... lar doce lar...


Mocimboa da Praia, 21 de julho de 2012.

Já está quase na hora de me despedir...

Parece que nem cheguei e já estou a partir...

Mocimboa é um lugar tão especial pra mim, que eu sempre voltarei aqui... seja sozinha, seja com minha futura família, mas eu sempre voltarei.

Sempre voltarei para rever a casa onde eu vivi os melhores anos da minha vida...

Sempre voltarei para lembrar minha família moçambicana que eu oro sempre por eles e que eles estão em meu coração.

Encontrei novos bancos, comércios, muitos carros, desenvolvimento... pena que esse desenvolvimento que só visa a exploração não traz melhorias para a população...

Encontrei pessoas em casas melhores, outras na mesma realidade... uns muito doentes, outros gozando de boa saúde... principalmente a Amina, a menininha da foto, que fez todos os testes deu negativo quanto a AIDS...  :)

Eu chorei, abracei, ri, brinquei, sentei e conversei, gastei tempo ouvindo, ouvindo, mimei Mama Aby e Patrick e fui mimada por eles....

Mas o mais difícil foi chegar aqui numa época onde muitos casamentos forçados estão acontecendo... Época de férias é assim... eles aproveitam pra casar suas adolescentes...

Com medo que suas meninas engravidem e fiquem mal faladas, as avós – pois estamos falando de uma sociedade matriarcal, onde quem tem a última palavra são as mamás mais velhas da família – estão obrigando suas netas a se casarem.

Uitôto, minha vizinha de apenas 14 anos casou-se com um homem que não queria, que não amava. Não adiantou seu pai protestar... quem decidiu casar Uitôto foi sua avó... Enquanto eu visitava a família uma grande discussão foi formada, pois ela está recusando o marido e a avó disse que ela não pode voltar para a casa dos pais.

O mesmo foi com a filha de Zaina. Sua filha de 14 anos já está prometida para um homem 20 anos mais velho. Não adiantou ela protestar, nem seu marido protestar... sua sogra arranjou o casamento e assim vai acontecer depois daqui a 40 dias... Zaina me disse assim com lágrimas nos olhos: “Eu não quero mana, eu não quero... casamento não é obrigação mana, eu casei pela minha própria querencia...”

A África te ensina que algumas vezes não temos o que fazer a não ser orar, a pedir a Deus que tenha misericórdia deste povo, destas meninas que não tem voz nenhuma...

A violência doméstica continua, as crianças sendo tratadas como mão de obra fácil e acessível (muitas famílias não mandam suas meninas pra escola, pois é conveniente tê-las em casa para o trabalho do dia a dia...), e na cabeça de suas mães elas não precisam mesmo falar português e serem educadas, pois na adolescência vão simplesmente seguir o caminho de toda mulher mwani: casamento arranjado, gravidez precoce e aprenderão a dividir seu marido com outras mil mulheres e aprenderão também a traí-los quando o dinheiro em casa não for suficiente...

Deixo Mocimboa com o coração apertado, deixo Mocimboa já planejando em voltar...

Mas também deixo Mocimboa nas mãos do meu Deus que tudo pode, que tudo vê, que tudo transforma e que ama incondicionalmente este povo...

Até daqui uns dias de novo Mocimboa...
Bjos a todos...
Ana

3 comentários:

  1. Nossa, Ana! Deve ser realmente muito difícil e triste acompanhar de perto a situação dessas pessoas. Deve dar um sentimento de impotência, de revolta... Mas, como você mesma diz, Deus tudo pode. Orar é o melhor caminho. Bênçãos a essas pessoas!

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    1. Oi Kati!! Sim... é horrível... eu perguntei se eu não podia ir buscar a Uitôto e eles riram de mim...sái de lá sem nada poder fazer... Mas sim, Deus tudo pode, em todas as situações!! A Obrigada pelo carinho... e que Deus tb abençoe vc e sua família... bjos

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  2. Boa noite.
    Estive em Mocímboa da Praia de 1999 a 2003 e gostei de estar , nunca mais vou esquecer .
    Um amigo
    OMakonde

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