quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A casa da tia Samara

Estrada de Jundiaí rumo a Marília, 19 de agosto de 2011.




Na casa da minha vó eu tinha um lugar preferido: o quarto da minha tia Samara.

Era um quarto com a cara dela, estilo dela, com quadros, discos, dizeres, roupas, tudo, tudo com a cara dela estampada em cada particularidade....

Foi ali que chorei com música orquestrada e clássica, e também onde aprendi a apreciar música popular brasileira: Chico Buarque, Sá e Guarabira, Gilberto Gil, 14 Bis, Flávio Venturini...

Foi ali que incorporei um estilo básico e confortável de se vestir, sentada na sua cama só observando-a se trocar pra ir trabalhar no Sudameris ou ir para a faculdade... Ela secava o cabelo, se maquiava e sempre ficava linda.

Foi abrindo as suas gavetas, mexendo nos seus segredos, provando os seus sapatos, vendo a inventar pratos inusitados na cozinha, ouvindo suas ideias e pensamentos sempre tão interessantes e profundos q fui me tornando a Ana Elisa que sou hoje...

Foi ela que me ensinou que somos lindas mesmo sendo baixinhas e morenas...

Foi com ela que aprendi a pensar no coletivo, a pensar mais no outro, a dar valor a pessoas não pela sua aparência e sim pelo q são....

Foi observando-a a sempre dar carona pra todo mundo no seu corcel azul, a tratar com respeito e carinho àqueles que tinham poucos amigos na igreja, a valorizar a educação infantil, a se dedicar sem ressalvas a diferentes ministérios e atividades...

Foi sendo levada quando criança pra cima e pra baixo em todo lugar q ela ia e ganhando livros de presente que hoje estou mais preparada pra ser tia...   

Minha tia me ensinou a amar o próximo, me ensinou a amar a Jesus, me ensinou a valorizar a família, me ensinou que podemos fazer diferença nesse mundo, que podemos querer mais de nós mesmos... e sempre com uma franqueza e docilidade que são próprios da tia Samara...  

Sua influência foi tamanha que segui seus passos acadêmicos e até hoje fico feliz da vida quando me dizem: “mas é a cara da Samara mesmo!”

Seu quarto hoje tomou proporções maiores e se tornou em uma casa linda, cheia de vida, de saberes sem fim: cristãos, mitológicos, sociológicos, antropológicos, pedagógicos, culinários, musicais... e é ainda na sua casa que vez ou outra me sento pra aprender e absorver suas opiniões e ideias que tanto me ajudam a prosseguir para o alvo...

Obrigada tia Samara... 
Te amo e amo ser sua sobrinha...

Bjos

Ana Elisa

domingo, 14 de agosto de 2011

De volta pra casa


Marília, 14 de agosto de 2011.

 

Aterrisei, cheguei, pisei em solo brasileiro e melhor que isso, em solo mariliense... dei início ao processo de “reentrada” a um novo estilo de vida, nova cultura, novas pessoas para interagir e conviver....voltei pra casa...

Abracei meus familiares e amigos com a sensação que tínhamos nos visto na semana passada. O convívio divertido diário com a minha sobrinha, conversas com meu irmão que me coloca a par do mundo com sua perspectiva tão inteligente e interessante, abraços de pessoas que nunca havia visto antes, mas que tem me abençoado tanto... Tudo, tudo... tem sido tão intenso e tão bom...

Esse processo de reconstrução de mim mesma tem sido interessante e por vezes dolorido, pois redefinir o que vc é aliado ao que vc pensa que é ou ao que vc pensa q se tornou depois de 2 anos de experiência transcultural não é simples.... Vc espera muito de si mesma, os outros esperam muito de vc e a verdade é que vc não sabe como agir nessa roda gigante e profunda de expectativas.

Comer e jogar o resto de comida sem pensar nos meus vizinhos em Mocimboa é impossível, comprar uma roupa nova e não pensar nas minhas amigas moçambicanas é impossível, desfrutar de toda fartura e conforto sem pensar na falta de qualidade de vida que vivíamos em Mocimboa é impossível. E o que fazer? Como devo agir, pensar? Como devo me expressar?

A resposta que encontro nisso tudo é que minha vida em Mocimboa e minha família que deixei por lá devem ser lembrados por mim diariamente em minhas orações, suas dificuldades e luta espiritual devem impulsionar minha fala Brasil afora desafiando outros a se entregar para a obra missionária, é guardar na mente e coração todos os aprendizados e riqueza adquiridos, fazendo com que esse passado tão próximo continue a impulsionar meu coração para a obra missionária em tudo o que eu fizer num futuro que já chegou.... pois meu ministério não acabou, está tendo apenas um novo recomeço...

A Ana que eu fui, que penso ser depois de Mocimboa e a Ana que eu busco ser daqui pra frente deve ter em mente mais uma vez que Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Devo confiar, crer e esperar Nele, tendo a paz como árbitro de todas as decisões e caminhos percorridos, pois: “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti.” Isaías 26:3.

A minha oração é que Deus perdoe os meus pecados, me refaça a cada dia e me molde conforme a vontade Dele para o serviço do Reino e glória do seu nome.

É muito bom estar de volta!!!

Bjos a todos...

Ana