terça-feira, 27 de julho de 2010

Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada

Mocimboa da Praia, 26 de julho de 2010.

 
Quase não consegui expressar em palavras o que senti hoje... 
 
Ao entrar na sala da Manadjúma, me deparei com seu marido Ebraimo sentando no canto da mesa, de pernas cruzadas e desenhando a planta da sua nova casa...
Manadjúma perdeu sua casa para a sua família... ela se casou de novo, com um marido que sua mãe não aprovava... Sua mãe é feiticeira e fez de tudo para que ela abandonasse Ebraimo.... Depois de sofrer terrivelmente pelos feitiços feitos pela própria mãe, deixou sua casa própria, que construiu com suas economias e se mudou para uma casa de favor... bem em frente a minha...
Mês passado, ela e seu marido adquiriram seu novo terreno...
Ver Ebraimo desenhando com caneta Bic azul e vermelha a planta da sua casa... a lateral... a varanda... a frente... os fundos... com tanto capricho e préstimo... sonhando com uma casa que provavelmente levará anos e anos para ficar pronta... me fez pensar que somos todos iguais... feitos de carne e osso... e por vezes temos o mesmo sonho... o tão sonhado “sonho da casa própria”... sonho de pertencer a um lugar... sonho de ter um canto para chamar de nosso...
 
Me  lembrei do meu pai... pois ele também sonhou e sonhou com a casa q vivemos hj no Brasil... “milimetrou” os azulejos da cozinha para que os desenhos dos azulejos decorados e os azulejos brancos fossem dispostos de forma uniforme e perfeita....
 
Naquela sala me senti em casa, me senti acolhida... me senti parte da família... sonhando junto...
E a minha oração é para que Jesus reine naquele lar...
Estejam em oração comigo...
Bjos
Ana

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Parti e não olhei pra trás

Mocimboa da Praia, 09 de julho de 2010.


Parti e não olhei pra trás
E quando olhei me desesperei...
Pois sabia exatamente o que estava deixando para trás e o que iria encontrar...
Sabia os cheiros, os gostos, as saudades, as presenças e solidões...
Com o coração apertado fui abraçada e recebida com muita festa... distribui chicletes para as crianças, brincos para as mulheres e comecei a caminhar novamente pelas ruas de Mocimboa... até que meus pés se habituassem de novo à poeira desse chão tão cheio de necessidades...
Necessidades que muitas vezes já se tornaram normais à minha visão de quase um ano por aqui... mas quando ouvi a experiência da minha primeira visita brasileira, a pastora Márcia, percebi o quanto é mesmo chocante pisar aqui.

Pra ela comer sem luz e com as mãos ao lado do Assanito em plena crise de tosse com tuberculose, passar horas e horas à noite sem TV, rádio, luzes na rua ou barulho de trânsito, se ver sem geladeira, sem descarga, sem carro, tendo q se cobrir com lenços e capulanas e ainda ter q se acostumar com os ratos andando nas madeiras do meu telhado foi muito difícil... mas uma benção para o seu coração que definitivamente voltará para o Brasil com outras perspectivas...

E cá estou... me sentindo mais moçambicana do que nunca... sem que a lista acima me incomode... não mais...

Hoje minha lista está repleta de planos e responsabilidades para o próximo ano curtíssimo onde finalizaremos nosso trabalho aqui...

Acordei e orei... “Deus preciso da sua ajuda e sabedoria... para liderar a Pré-Escola, para discipular e evangelizar meus vizinhos, para abençoar os jovens da minha Igreja...” E Ele veio com sua presença gostosa e encheu meu coração com a esperança e certeza que fará a Sua vontade apesar das minhas incapacidades e limitações:

"Também o Espírito (Santo), semelhante nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).

Assim, estou de volta em Mocimboa!!!! Mas não estou sozinha!!!
Estou acompanhada do Espírito Santo e dos seus gemidos que levam o meu “não saber orar como convém”, minhas preocupações, medos e ansiedades até o trono do Deus todo Poderoso...

Bjos diretamente de Mocimboa da Praia a todos!!!